Nesta série de entrevistas feitas por David Barsamian entre 2010 e 2012 e reunidas no livro “Sistemas de Poder“, Noam Chomsky oferece importantes perspectivas acerca da política norte-americana e dos novos rumos da sociedade diante das revoltas populares. Aqui, Chomsky explora as questões mais urgentes do nosso tempo, como as manifestações populares no Oriente Médio, a crise financeira na Europa, o descaso com a educação, os perigos da descrença política e as ameaças ao meio ambiente, tudo isso de uma maneira extremamente acessível.
No primeiro capítulo/ entrevista já encontramos uma grande discussão sobre qual o rumo do imperialismo americano frente aos inúmeros conflitos internacionais em que os Estados Unidos vêm se envolvendo e o crescimento econômico da China. Chomsky também fala sobre o papel das revoltas populares, criticando duramente os manifestantes de fim de semana, onde podemos fazer uma boa comparação com as manifestações que ocorreram aqui no Brasil em junho de 2013.
Em Sistemas de Poder são reunidas entrevistas cedidas por Noam Chomsky entre 2010 e 2012. Elas foram divididas em oito capítulos, que resultam em pouco mais que 170 páginas.
“É como escalar montanhas. Escalamos um pico, pensamos que estamos no topo – e então nos damos conta de que há um pico mais alto bem em frente e temos de escalá-lo. São assim as lutas populares. E isso está faltando. Nossa cultura de gratificação rápida não é propícia a esse tipo de compromisso.”
Em Cadeias de Submissão e Subserviência, Chomsky levanta a questão da “escravidão mental“, dizendo que mesmo que a escravidão formal tenha acabado, a sociedade ainda é muito submissa ao poder e à autoridade. “As pessoas estão reduzidas a pedir e a suplicar por favores aos senhores, algumas migalhas aqui e ali”, destacou David Barsamian. Aqui o autor também dá foco à discussão sobre como o sistema de propaganda promove a docilidade da sociedade e como as escolas e sindicatos influenciam os sistemas de poder.
Insurreições abre caminho para conversas sobre os conflitos no Oriente Médio, sobre o papel da Primavera Árabe e a importância que o movimento trabalhador teve neste conflito. O autor também faz uma interessante comparação entre a crise que vem acontecendo na África com os problemas na Europa e EUA, dizendo que são parecidos, embora venham de mundos diferentes. Também tomamos parte de uma discussão sobre os conflitos na Líbia, a relação dos Estados Unidos com o Iraque e a crise do petróleo. Um ponto interessante desta entrevista são as críticas a respeito do insistente domínio dos EUA sobre os outros países do mundo.
“Só podemos perder, no sentido próprio da palavra, o que possuímos. Era tido como óbvio: possuímos a China – e se os chineses caminharem para a independência, perdemos a China. Vieram depois as preocupações com a ‘perda da América Latina’, a ‘perda do Oriente Médio’, a ‘perda de’ certos países, tudo baseado na premissa de que possuímos o mundo e tudo o que enfraqueça o nosso controle é uma perda para nós, e ficamos imaginando como recuperá-lo. […] Isso é uma espécie de paranoia, mas paranoia de gente riquíssima e poderosíssima. Se você não tiver tudo, é o desastre.”
Em Distúrbios Domésticos são desenvolvidas questões acerca do uso político da linguagem, sobre a liberdade e a perseguição do Estado, sobre as táticas do movimento Ocupe e, novamente, o papel da indústria de propaganda na sociedade.
“Para articular a resistência e desafiar o poder, é necessário superar a barreira do medo. […] Os sistemas de poder, sejam eles quais forem, muito raramente abrem mão alegremente do poder. Costumam resistir. Numa sociedade como a nossa, eles dispõem de muitos recursos. […] O medo, então, é compreensível. Hoje em dia, ele vem sendo aguçado por ataques muito severos às liberdades civis fundamentais. Está em ação um sistema de controle e repressão – não vem sendo usado em demasia, mas está em ação e pode ser muito punitivo.”
Já em Sabedoria não Convencional é discutida a atribulada relação da Turquia com os Estados Unidos, Israel e com a União Europeia. O autor também fala sobre o genocídio armênio e as questões envolvendo os curdos. Chomsky também destaca os perigos da “amnésia histórica“, dizendo que se não reconhecermos nossos próprios crimes, nada há que os impeça de continuar.
“A amnésia histórica é um fenômeno perigoso, não só porque destrói a integridade moral e intelectual, mas também porque lança as fundações para crimes que ainda estão por vir”
Em Escravidão Mental temos uma longa discussão sobre a influência da indústria da publicidade na sociedade e como a Internet e as redes sociais influenciam a cultura intelectual. O autor também destaca a importância que as redes sociais têm nas manifestações populares e fala sobre as tentativas de controle e censura. Além disso, Chomsky fala sobre a polêmica gerada pelo Wikileaks. É extremamente interessante notar como ele relaciona a indústria da propaganda com o descaso com o meio ambiente, dizendo que cada vez menos os americanos consideram que a mudança climática seja um problema sério (o que foi comprovado em diversas pesquisas).
“Os riscos do sistema financeiro podem ser remediados pelos contribuintes, mas ninguém virá em nossa ajuda se o meio ambiente for destruído.”
Já na entrevista intitulada Aprender a Descobrir são discutidas questões acerca da linguagem (Chomsky é especialista na área) e o papel da educação numa sociedade capitalista. Ele também fala sobre o impacto das redes sociais.
“[…] Wilhelm von Humboldt, figura de proa e fundador do liberalismo clássico. Dizia ele que a educação deve ser como dar uma pista que o estudante segue à sua maneira. Ou seja, oferecer uma estrutura geral em que o aprendiz – seja ele criança ou adulto – explore o mundo de sua própria maneira criativa, individual e independente. Desenvolver o conhecimento, não só adquiri-lo. Aprender a aprender. […] A ciência vem sendo ensinada de maneira tal que se perde todo o prazer com ela, não se mostra o que é uma descoberta.”
Em Aristocratas e Democratas, Chomsky fala sobre a descriminalização das drogas, sobre a cultura das armas entre os norte-americanos e sobre a relação entre os Estados Unidos e Canadá. Ele também abre espaço para discussões sobre o descaso com a educação e os problemas ambientais.
“A Flórida também anunciou recentemente que está reduzindo o financiamento da universidade estatal. A Universidade da Flórida está fechando alguns importantes programas acadêmicos, inclusive na área das ciências da computação, mas aumentando o financiamento dos esportes. […] Todos esses desenvolvimentos fazem parte do assalto geral à educação, que, não nos esqueçamos, faz parte de um assalto muito mais geral à sociedade como um todo.”
David Barsamian e Noam Chomsky
Estas entrevistas certamente vão inspirar tanto os jovens quanto os mais experientes, oferecendo reflexões de uma das vozes mais sóbrias e esclarecedoras da atualidade. Mais uma vez Noam Chomsky mostra que é uma peça fundamental para a compreensão do nosso mundo de hoje. Recomendo sem reservas!
2 Comentários
Noam Chomsky é muito bom!
Obrigada! Eu administro o blogue, mas estou começando a recrutar colunistas :]
Eu só pago o domínio próprio (30 reais por ano).
Vou visitar seu blogue… Abraços!
Conheço Noam Chomsky de reportagens da revista Veja, mas nunca tive oportunidade de ler um livro seu.
O Blog é muito bom, nem parece com blog. Você faz tudo sozinha. ou existe uma equipe colaboradora?
Ele (o blog) é gratuito ou paga hospedagem?
Gostaria que visitasse o meu brobrao.blogspot.com, e caso seja possível mande uma sugestão. Eu quero lembrar que curto também pelo facebook.