“– Eu sei – disse Nick.
– Você não sabe – disse o pai.“
(Ernest Hemingway)
Em 1610, quando Galileu Galilei mirou seu telescópio para o céu e observou pela primeira vez Júpiter e seus satélites, vislumbrou as crateras e montanhas da nossa Lua e descobriu várias outras estrelas antes desconhecidas, a humanidade se viu diante de um novo Universo. Um Universo muito mais vasto e rico do que os nossos olhos conseguem enxergar.
A Astronomia é realmente uma lição de humildade. Centenas de anos depois de Galileu, nós descemos do nosso pedestal e descobrimos que fazemos parte apenas dos subúrbios de uma entre outras centenas de bilhões de galáxias. E, com o fim do século XX, já era claro que toda essa imensidão – tudo o que somos e tudo o que vemos quando observamos o céu – é apenas uma pequena fração do Universo (ou dos universos).
Olhe para o céu noturno e observe a Lua e todos os outros corpos celestes… Saiba que o que vê representa apenas 4% de tudo o que há no Universo – incluindo você e eu. Os outros 96% constituem matéria escura e energia escura – e ninguém sabe o que são essas coisas.
Em “De que é feito o Universo?”, Richard Panek reconta as mais de cinco décadas de estudos que culminaram com a descoberta da matéria escura e energia escura e da expansão acelerada do Universo, e, consequentemente, com o Prêmio Nobel de 2011.
Através de uma pesquisa impecável, baseada em diversas entrevistas com os principais cientistas que contribuíram com a descoberta, citando desde acontecimentos importantes até uma “simples” troca de emails, Panek reconstrói com clareza e proximidade os principais passos da Cosmologia Moderna.
O que torna o livro mais agradável ainda é que ele não se resume apenas à procura de supernovas ou a desvios para o vermelho, mas fala também sobre as pessoas. Panek revela todas as adversidades por trás do ainda hierárquico mundo da ciência, mostrando como os pesquisadores tinham que levar suas pesquisas adiante, mesmo sem um financiamento adequado, como lidavam com a concorrência acirrada com grupos de cientistas “rivais” e até mesmo como sofriam para conseguir uma autorização para usarem algum telescópio eficiente.
Aqui nos lembramos que nossa existência é apenas uma parte insignificante de tudo o que há no Universo. “De que é feito o Universo?” é um relato inquietante de como os astrônomos descobriram que ainda não sabem praticamente nada sobre 96% do cosmo. Mas mesmo assim os cientistas estão satisfeitos, sabendo que apesar da escuridão eles têm a oportunidade de construir uma nova física. Estamos em 1610 novamente.
“Que legado maior um cientista poderia deixar para o Universo?”