“O fato é um ato? Juro que este livro é feito sem palavras. É uma fotografia muda. Este livro é um silêncio. Este livro é uma pergunta.” (pg 17)
O livro conta a história da nordestina Macabéa, mulher feia e alienada, que se muda para o Rio após perder sua tia. Ela trabalha como datilógrafa e passa suas horas livres ouvindo a Rádio Relógio. Logo ela se apaixona por Olímpico de Jesus, um metalúrgico nordestino, que a trai com sua colega de trabalho. E é depois de receber um conselho da própria ‘colega’ que Macabéa resolve ir a uma cartomante, e em pouco tempo vai ver sua hora da estrela chegar.
A hora da estrela é um livro muito pequeno, um dos menores da minha estante, com pouco mais que 80 páginas. A história é contada por um narrador-personagem, Rodrigo S.M., que até mesmo se identifica com a protagonista Macabéa. Há momentos em que ele a ama, há momentos em que ele é contra a mulher, o que faz com que as características da própria Clarice Lispector fiquem mais evidentes.
Nosso narrador, Rodrigo S.M., retarda bastante o início da narração da vida de Macabéa, para desenvolver um autoquestionamento. Autoquestionamento acerca de várias coisas, principalmente sobre a vida e sobre o ‘escrever’.
“Que ninguém se engane, só consigo a simplicidade através de muito trabalho.
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever.” (pg 11)
“Mas que ao escrever – que o nome real seja dado às coisas. Cada coisa é uma palavra. E quando não se a tem, inventese-a. Esse vosso Deus que nos mandou inventar.
Por que escrevo? Antes de tudo porque captei o espírito da língua e assim às vezes a forma é que faz conteúdo.” (pg 18)
Macabéa era incompetente. Incompetente para a vida.’ Tinha saído do Alagoas depois de perder seu único elo com o mundo, sua tia, e mudou-se para Rio, onde foi morar com as quatro Marias em uma espécie de pensão miserável. Já na nova cidade começou a trabalhar como datilógrafa, sempre muito orgulhosa da profissão que a tia havia lhe proporcionado. Enquanto gastava suas horas livres ouvindo a rádio relógio, esperava pelo seu salário para que pudesse então ir ao cinema e tomar coca-cola.
A protagonista é um grande exemplo da miséria humana. Passava seus dias sem nada, era uma inútil, mal sabia que era uma peça descartável. Não tinha nem consciência da sua própria existência, era passiva diante de tudo, se conformava com a vida que tinha. Aliás, ela até mesmo pensava que era feliz. Era uma alienada, um verdadeiro ‘cabelo na sopa’.
“Já que sou, o jeito é ser.” (pg 34)
“Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam.” (pg 40)
“Maca, porém, jamais disse frases, em primeiro lugar por ser de parca palavra. E acontece que não tinha consciência de si e não reclamava de nada, até pensava que era feliz. Não se tratava de uma idiota mas tinha a felicidade dos idiotas. E também não prestava atenção em si mesma: ela não sabia.” (pg 69)
Então ela conhece Olímpico de Jesus, nordestino como ela, que trabalhava como metalúrgico. Entretanto, ele era muito diferente dela. Gostava de fingir que sabia de tudo, era ambicioso com relação ao seu futuro. Não demora muito para que o namorado da coitada a traia com a sua colega de trabalho, Glória.
Macabéa ficou desesperada, embora não aparentasse. Foi quando a própria Glória sugeriu que ela fosse a uma cartomante. A mulher prevê um futuro radiante para a nossa pobre protagonista, que finalmente percebe que existe um futuro. Percebe que ela existe para um futuro, e assim vê sua hora da estrela chegar.
“Ela se abraçava a si mesma com vontade do doce nada. Era maldita e não sabia. Agarrava-se a um fiapo de consciência e repetia mentalmente sem cessar: eu sou, eu sou, eu sou.” (pg 84)
A mais surpreendente obra de Clarice Lispector nos faz refletir acerca do desamparo ao qual estamos todos suscetíveis. Aqui, o escrever é uma necessidade, onde desenvolvem-se reflexões sobre a vida e sobre a morte, sobre a palavra.
O leitor é raptado pela leitura. Desde a dedicatória que Clarice escreveu no início do livro, já percebemos que o que vai se suceder será grande. E é.
Mesmo criando um falso narrador, motivada pelo desejo de desaparecimento, Clarice não conseguiu concretizar sua saída discreta pela porta dos fundos. Em seu último livro publicado em vida fica provado que ela era realmente a mestra de sua literatura.
4 Comentários
Obrigada!
Muito boa essa sua resenha. Vai me ajudar muito fiquei ate. Curioso para ler o livro. Sucesso
Olá Feh Almeida!
Sem problemas quanto ao seu 'sumiço'…
Obrigada pelo comentário!
Olá parceiro.
Aqui é a Feh, do blog Mania Compulsiva por Livros.
Peço desculpas pela falta de visitas em seu blog, estava realmente sem tempo, e passei por momentos que eu cheguei a pensar em desativar o blog. Mas não jogarei todo o meu trabalho fora, já estou criando novas postagens para ele, por isso, fique ligada 😉
Gostei da resenha.
Um livro pequeno, mas interessante, fiquei até curiosa para saber o final… HAHA
Beijão…
Att: Feh Almeida
http://maniacompulsivaporlivros.blogspot.com.br