A crítica é o gênero textual que tem por finalidade orientar o leitor de um jornal ou revista, estimulando-o ou desestimulando-o a consumir um objeto cultural, isto é, um livro, um filme, uma peça de teatro, um concerto de música clássica, um show de música popular, uma exposição de artes plásticas, etc.
Ela tem uma estrutura relativamente livre, que varia muito, dependendo do autor, do público e do veículo em que é publicada. Apesar disso, apresenta alguns elementos essenciais, como a descrição da obra em exame, sua situação no conjunto das obras do autor, diretor ou músico, uma opinião sobre a qualidade da obra, etc.
Uma crítica costuma contextualizar o objeto cultural em avaliação, situando-o no conjunto das obras do autor ou em relação a outro objeto cultural do mesmo gênero. Esse tipo de texto expressa a opinião do crítico que avalia o objeto cultural e pode estar numa linguagem mais pessoal ou uma linguagem objetiva e direta, tendendo à impessoalidade.
Veja o exemplo da crítica abaixo:
Quanta saúde!
Travolta se traveste de mulher obesa numa comédia que ataca o preconceito (Veja, nº 2027. Editora Abril)
Bem antes de sua estréia, na última sexta-feira, o musical Hairspray – Em Busca da Fama (Estados Unidos, 2007) já despertava interesse por um detalhe engraçado: a presença de John Travolta, que nos anos 70 ganhou fama em produções desse tipo, como Grease, no papel de uma mulher. E que mulherão: graças à maquiagem, Travolta se transmuta numa mãe dos anos 60 para lá de rechonchuda. Só por revelar a porção “tiazinha” do ex-galã,Hairspray já valeria o ingresso. Mas o filme não se esgota aí. É engraçado o suficiente para agradar até a quem vê os musicais com ressalvas. O humor, no seu caso, está a serviço de uma causa: a denúncia do preconceito. Trata-se de uma refilmagem da fita independente de 1988 que leva a assinatura de John Waters, cineasta conhecido pelo estilo camp (a vertente gay do brega) e pelas críticas anárquicas à sociedade americana. Assim como o sucesso Os Produtores, a história inspirou um musical da Broadway, que por sua vez impulsionou a segunda versão no cinema. O novo Hairspray é menos amalucado que o original (que trazia o travesti Divine, morto em 1988, no mesmo papel de Travolta). Mantém-se fiel, contudo, ao teor político da obra de Waters, que escancara de forma tão ácida quanto caricatural a discriminação contra os negros nos Estados Unidos. Também conserva intacta uma certa mensagem social subversiva. Num país traumatizado pelos altos índices de obesidade, o filme é uma ode aos gordinhos. Embora Travolta seja seu maior chamariz e o elenco ostente ainda Michelle Pfeiffer como uma malvada preconceituosa, quem brilha mesmo em Hairspray é a novata (e cheinha de fato) Nikki Blonsky. Ela interpreta a protagonista Tracy, colegial que adora cantar e dançar, mas cuja participação num concurso musical é vetada por uma emissora de TV. Com suas formas generosas, Tracy passa ao largo do padrão de beleza exigido – só loiras, altas e magras são bem-vindas. Alia-se então aos cantores negros do programa em questão para promover uma revolta. A alusão à discriminação não tem nada de sutil. Os negros surgem dançando num chiqueirinho, separados dos brancos. E o tal programa reserva uma data no mês para o Dia dos Negros, a única oportunidade em que estes podem aparecer na TV. Hairspray é um filme com causa, mas que não resvala na pregação chata. Com suas tiradas, ele expõe o que há de abominável por baixo das aparências sociais de maneira tão livre, leve e solta quanto o jeito de ser de sua protagonista.
Avalie sua crítica:
Observe se o texto apresenta uma descrição do objeto cultural em exame; se destaca seus pontos positivos e negativos; se estimula ou desestimula o leitor a conhecer ou consumir o objeto em questão; se os verbos estão predominantemente no presente do indicativo; se a linguagem empregada está adequada ao veículo e ao público a que o texto se destina.
Fonte: CEREJA, William; COCHAR, Thereza. Português: Linguagens. São Paulo: Atual, 2009.