Todos nós já escrevemos cartas algum dia, seja aquela mais tradicional (papel, selinho e tudo mais) ou um e-mail rápido, para falar sobre as férias ou sobre o que vai cozinhar para o almoço (!). Entretanto, quando escrevemos para alguém com a intenção de convencê-lo de alguma coisa por meio da argumentação estamos criando as chamadas cartas argumentativas.
Veja um exemplo de carta argumentativa:
Caro Felipão,
Nunca nos encontramos pessoalmente, mas permita que eu me apresente: me chamo Marcos Caetano, como você pode ler aí no topo da coluna, e sou cronista esportivo. Mas isso não é importante, pois além de cronista fui, sou e morrerei torcedor. Apesar de respeitar os colegas que pensam diferente, confesso que não entendo os comentaristas que não declaram sua predileção por um time. Se não fosse torcedor do meu sofrido Tricolor das Laranjeiras, jamais teria me apaixonado por futebol. E, sem essa paixão, dificilmente teria pensado em escrever sobre o assunto que é a minha cachaça. Minha e de outros 160 milhões de brasileiros. Do trabalhador da fábrica da Móoca ao menino de rua que cheira cola na Candelária e do catador de papel do Recife ao padre da paróquia da sua Caxias do Sul somos, acredite, todos seguidores da mesma religião: a Seleção Brasileira.
Também não sou hipócrita de imaginar que você tenha decidido fazer do esporte o seu ganha pão – primeiro como jogador e agora como técnico – se não fosse por amor. Somos, portanto, dois apaixonados por futebol. E é puramente nessa condição, de um apaixonado que vê no velho esporte das botinadas um ponto de referência e identidade cultural dos brasileiros, que te escrevo estas mal traçadas.
Em primeiro lugar, sei que eu e os colegas da crônica esportiva vivemos pegando no seu pé. Mas também sei que você traz no caráter uma qualidade que anda escassa nesses tempos de crise moral nas lideranças do futebol: você é honesto. E é impossível deixar de notar o carinho e o respeito que todos os jogadores que trabalharam contigo têm por você. Portanto, quando escrevo críticas sobre o seu trabalho, o faço com a certeza de estar me dirigindo a um homem sincero, preocupado em aprender sempre – e não a um arrogante cheio de empáfia.
Certamente você tem acompanhado as excelentes partidas da fase decisiva do Campeonato Brasileiro. E, claro, viu a eletrizante – não há outra palavra para descrever aquilo – final entre Atlético-PR e São Caetano. São dois times, Felipão, que chegam a comover pela bravura com que buscam o ataque em qualquer circunstância. O Atlético buscou mais, e mereceu vencer o jogo. A lógica do esporte – alguns mencionariam os deuses do futebol – quase sempre acaba premiando quem é mais corajoso.
Mas não desprezemos o São Caetano, que está longe de poder ser considerado fora do páreo. O Azulão teve uma incrível média inferior a um gol por partida no ano – isso sem jogar com sete ou oito atrás, mas no bom e velho 4-4-2. Se esses times finalistas, que representam o novo no futebol brasileiro, não fazem retranca, por que a Seleção deveria fazer? Você apostou na retranca contra Bolívia, Uruguai e Argentina. E ousou mais contra Chile, Paraguai e Venezuela. Perdemos as três partidas que jogamos para não perder e ganhamos as três que jogamos para ganhar.
A razão da carta, como você já percebeu, é uma só: te pedir que ponha o Brasil para jogar como os finalistas – no ataque. Essa é a nossa maior tradição, e traí-la será um crime que não ficará sem castigo na Copa do Mundo. Não sabemos jogar de outro jeito – e o partidaço da final provou-nos isso uma vez mais. Se acerte com o Romário. Chame o Djalminha e os Ronaldinhos. Preste atenção no Kaká e no Alex Mineiro. Contrate o Geninho e o Picerni como auxiliares. Vamos para cima deles, Felipão! Os brasileiros confiam em você. Confie também na gente quando pedimos um time ofensivo. Se ainda estiver em dúvida, ligue a televisão de novo no próximo domingo. O Azulão precisa vencer por dois gols de diferença – e vem mais futebol brasileiro por aí.
Porque também no esporte, como dizia o Vinícius, meu amigo, só resta uma certeza: é preciso acabar com essa tristeza. É preciso inventar de novo o amor.
CAETANO, Marcos. In: Jornal do Brasil. 17 dez. 2001.
- A primeira coisa que você deve fazer antes de escrever uma carta é ler atentamente a proposta de redação. Seja preciso ao identificar o(s) interlocutor(es); destaque os diferentes pontos de vista e pense bem em quais argumentos irá usar na sua redação.
- Depois de ler atentamente a proposta, comece a escrever o rascunho da sua carta argumentativa. Enumere seus argumentos e explique-os de forma clara e objetiva (lembre-se que o objetivo da carta é persuadir o leitor). Construa a imagem do interlocutor, faça um levantamento de tudo o que você sabe sobre ele (sua origem, sua função na sociedade, suas opiniões etc).
Veja também:
Não se esqueça que sua carta argumentativa deve conter:
- Local e data;
- Vocativo apropriado;
- Corpo do texto;
- Bons argumentos que fundamentem suas opiniões/ reivindicações;
- Linguagem de acordo com o perfil do(s) interlocutor(es);
- Despedida e assinatura.
Para praticar a produção de cartas argumentativas, abaixo coloco uma lista de possíveis temas para serem abordados:
- Falta de empregos para jovens;
- Falta de vagas nas escolas públicas;
- Cotas nas universidades federais;
- Falta de segurança no bairro;
- Má qualidade dos transportes coletivos;
- Alto índice de analfabetismo entre adultos da cidade ou da comunidade;
- Vagas insuficientes nas universidades públicas;
- Falta de bibliotecas públicas;
- Saneamento básico deficiente;
- Ausência de áreas verdes e de lazer no bairro.
20 Comentários
Ahhhh que ótimo saber disso! Abraços XD
Me ajudou muito!!! 🙂
Obrigada ;]
seu blog e otimo te achei linda tbm casa cmg ??
Ambos. Mas nesse caso me refiro à pessoa para quem você está escrevendo a carta.
o interlocutor,no caso seria quem escreve (eu),ou para quem estou escrevendo?
Sempre que possível deixe linhas em branco, pois o texto fica mais organizado. Caso tenha que escrever uma carta argumentativa em um concurso público ou vestibular, fique atento às orientações específicas da prova, pois as exigências podem variar.
Tenho duas dúvidas: depois que colocarmos a cidade e a data,temos que sempre deixar uma linha pra depois pôr o vocativo? E outra: nao precisa deixar espaço para começar um parágrafo? Tem que ser exatamente assim como está no esquema? Desde ja agradeço!
haha Obrigada!
erro na 1° imagem "contrução da imagem (autor e interlocutor)"
ops faltou o sqn brincadeira ficou muito bom obrigado…
Joseph lee
ficou uma merda essa bostaa
Olá Danilo!
Fico muito feliz que tenha gostado do texto XD
Bem, a questão de exigir ou não a assinatura varia de instituição para instituição. Existem universidades em que o estudante é identificado (UFSC, por exemplo) e outras em que anulam a redação caso o concorrente se identifique (PUC, por exemplo). Se quiser ver isso, te indico um outro artigo do Acrobata: http://acrobatadasletras.blogspot.com.br/2012/12/redacoes-nota-10.html. Ali, você poderá ver a cópia de redações da UFSC, FUVEST e PUC,e assim notar esta diferença.
Porém, no caso específico da carta argumentativa, é melhor colocar sempre apenas a abreviatura do seu nome.
Obrigada pela visita, boa noite!
A.P.C.B.
Realmente adorei! Fico com muitas dúvidas sobre a estrutura dos diferentes gêneros e, com o texto, aprendi como é uma carta argumentativa definitivamente; parabéns pelo trabalho Ana. Parece estranho ver alguém dizer isso, mas é verdade, pois é difícil encontrar esse conteúdo na internet de maneira clara e correta. Uma dúvida: no vestibular, assinar uma redação representa anulação da mesma, certo? Acho que li isso em algum lugar.
Danilo R.
Olá!
Primeiramente, gostaria de destacar que existe uma diferença entre 'poema' e 'poesia'. A poesia tem o objetivo de sensibilizar o leitor por meio da linguagem. Já o poema refere-se à obra onde existe poesia (aquela com versos, estrofes, rima etc.). Obs.: Ainda existe a prosa poética, onde dificilmente você irá encontrar rimas (uma das principais características desse estilo é o uso de figuras de linguagem).
Retornando ao seu questionamento, você me perguntou se pode escrever uma carta argumentativa em forma de poema com rimas. Tomando como base o que eu disse antes, acredito que não é correto, principalmente se você estiver se preparando para o vestibular ou concurso público, já que não é possível manter a estrutura de uma carta e, ao mesmo tempo, o de um poema com rimas.
Espero ter ajudado.
Abraço!
oi Ana Paula, gostaria de saber se, contendo toda a estrutura da carta argumentativa, a mesma pode ser feita no formato de poema-com rimas. grata!
Obrigada! Volte sempre!
eu achei otmo
Olá! Fico feliz que tenha gostado do meu blog. Volte sempre que precisar!
Olá!!!
Excelente!!!
Parabéns ao blog, para mim foi um achado. Estou estudando para o próximo ENEM.
Obrigada pelas informações.
Abraços!!!!