As cantigas de amigo surgiram a partir das tradições da península Ibérica. Apresentam um cenário que é sempre ligado à natureza (campo, árvores, rios). O trovador assume a voz da donzela que exprime seus sentimentos pelo amigo, tendo como tema mais frequente a saudade da moça cujo namorado partiu para a guerra. A linguagem e estrutura empregadas são simples, sendo marcadas pela forma paralelística, em que as coplas (conjunto de duas estrofes) apresentam versos de sentidos equivalentes.
Ai flores, ai flores do verde pinho,
se sabedes novas do meu amigo!
Ai Deus, e u é?
Ai, flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo!
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi á jurado!
Ai Deus, e u é?
– Vós me preguntades polo voss’amigo,
e eu ben vos digo que é san’e vivo:
Ai Deus, e u é?
Vós me preguntades polo voss’amado,
e eu ben vos digo que é viv’e sano:
Ai Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é san’e vivo
e seerá vosc’ant’o prazo saído:
Ai Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é viv’e sano
e seerá vosc’ant’o prazo passado:
Ai Deus, e u é?
D. DINIS. In: CORREIA, Natália. Cantares dos trovadores galego-portugueses.
Já as cantigas de amor têm raízes na poesia provençal (de Provença, região do sul da França), nos ambientes finos e aristocráticos. Exprimem a paixão infeliz, o amor não correspondido que um trovador dedica a sua senhora.
Quantos an gran coita d’amor
eno mundo, qual og’ eu ei,
querrian morrer, eu o sei,
o averrian én sabor.
Mais mentr’ eu vos vir’, mia senhor,
sempre m’eu querria viver,
e atender e atender!
Pero já non posso guarir,
ca ja cegan os olhos meus
por vos, e non me val i Deus
nen vos; mais por vos non mentir,
enquant’ eu vos, mia senhor, vir’,
sempre m’eu querria viver,
e atender e atender!
E tenho que fazen ma-sen
quantos d’amor coitados son
de querer as morte, se non
ouveron nunca d’amor ben
com’eu faç’. E, senhor, por én
sempre m’eu querria viver,
e atender e atender!
GUILHADE, João Garcia de. In: CORREIA, Natália. Cantares dos trovadores galego-portugueses.
INTERPRETAÇÃO:
Quantos o amor faz padecer
penas que tenho padecido
querem morrer e não duvido
que alegremente queiram morrer.
Porém enquanto vos puder ver,
vivendo assim eu quero estar
e esperar, e esperar.
Sei que a sofrer estou condenado
e por vós cegam os olhos meus.
Não me acudis; nem vós, nem Deus
Mas, se sabendo-me abandonado,
ver-vos, senhora, me for dado.
vivendo assim eu quero estar
e esperar, e esperar.
Esses que veem tristemente
desamparada sua paixão
querendo morrer, loucos estão.
Minha fortuna não é diferente;
porém eu digo constantemente:
vivendo assim eu quero estar
e esperar e esperar.
Minhas fontes foram:
- ABAURRE, Maria Luiza; PONTARA, Marcela Nogueira; FADEL, Tatiana. Português: Língua, Literatura e Produção de texto – Volume Único. 2.ed. SÃO PAULO: Moderna, 2004.
- CEREJA, William; COCHAR, Thereza. Português: Linguagens – Volume único. 3.ed. SÃO PAULO: Atual, 2009. 576p.